Desde as eleições gerais realizadas em outubro, a instabilidade pós-eleitoral em Moçambique tem gerado preocupação global.
A violência crescente levou à fuga de mais de 3.000 pessoas, que buscaram refúgio em países vizinhos, como o Malawi e o Essuatíni, apenas na última semana.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) emitiu um comunicado alarmante, destacando a gravidade da situação. Segundo a organização, “a instabilidade pós-eleitoral forçou milhares de pessoas a abandonarem suas casas em busca de segurança nos países vizinhos”. Essa crise reflete a gravidade dos conflitos políticos e sociais no país.
Na última semana, aproximadamente 2.000 pessoas buscaram refúgio no Malawi, enquanto outras 1.000 chegaram ao Essuatíni. Entre os deslocados, encontram-se refugiados e requerentes de asilo de diversas nacionalidades que residiam em Moçambique. Esse movimento migratório teve início em 23 de dezembro, logo após o Conselho Constitucional proclamar os resultados das eleições, confirmando a vitória do partido Frelimo e de seu candidato presidencial, Daniel Chapo.
A confirmação dos resultados provocou uma onda de protestos e intensificou os conflitos. Dados da plataforma eleitoral Decide indicam que pelo menos 175 pessoas perderam a vida após 23 de dezembro, elevando para 277 o número de mortes relacionadas ao processo eleitoral desde 21 de outubro.
No Malawi, refugiados relataram experiências de extremo sofrimento. Muitos mencionaram ataques e saques em suas aldeias, obrigando-os a percorrer grandes distâncias e atravessar o rio Shire a pé ou em pequenos barcos. Entre os deslocados estão mulheres grávidas, idosos e crianças, frequentemente enfrentando condições precárias, com acesso limitado a alimentos e água potável.
As Nações Unidas emitiram um alerta sobre as condições nos abrigos, que estão superlotados. Infraestruturas de saúde insuficientes, bem como a escassez de suprimentos básicos, agravam ainda mais a situação.
Chansa Kapaya, diretora do ACNUR para a África Austral, enfatizou a necessidade de assistência humanitária urgente. “Os refugiados e os civis enfrentam riscos imensos, perderam seus meios de subsistência e dependem da ajuda humanitária”, afirmou. Kapaya elogiou a hospitalidade do Malawi e do Essuatíni, mas destacou a importância de mobilizar recursos para evitar uma catástrofe humanitária ainda maior.
Enquanto isso, em Maputo, cidadãos moçambicanos expressaram sua esperança por uma resolução pacífica dos conflitos. “Espero que o governo e os partidos possam dialogar para resolver os problemas do país”, comentou um morador. Outro cidadão manifestou descontentamento com o histórico de instabilidade: “São 49 anos de dificuldades, em que nada muda neste país”.
A crise pós-eleitoral em Moçambique sublinha a necessidade urgente de soluções políticas que promovam a paz e a estabilidade. A comunidade internacional, liderada pela ONU, continua a acompanhar a situação de perto e a trabalhar na mobilização de recursos para aliviar o sofrimento da população afetada.