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A História Oculta por Detrás dos Mitos: Descubra o Monumento Resistente de Maputo

Moçambique, com sua rica herança histórica, guarda segredos pouco conhecidos, como o intrigante Monumento em Memória dos Mortos da Primeira Guerra Mundial, localizado na Praça dos Trabalhadores, em Maputo.

Mais do que uma simples homenagem, o monumento carrega histórias, mitos e divisões que permanecem vivas no imaginário coletivo. Neste artigo, exploramos a história, as controvérsias e o impacto desse monumento que desafia o tempo.

A Origem do Monumento: Tributo aos Combatentes

Inauguração do monumento em 1935.

Inaugurado em 1935, o monumento presta homenagem aos combatentes portugueses e moçambicanos que perderam suas vidas durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Curiosamente, a maioria não morreu em batalha, mas devido a doenças, ataques de animais, fome e outras condições adversas no norte de Moçambique, região que foi palco de intensos conflitos com as tropas alemãs.

A obra de Roque Gameiro, pouco antes de ser enviada para Moçambique. Foi inaugurada em Lourenço Marques no dia 11 de Novembro de 1935, 17 anos exatamente após a assinatura do Armistício que pôs fim ao terrível conflito e quase três meses após o falecimento do artista.

Esculpida em pedra de Cabriz, trazida de Sintra, Portugal, a estátua tem 15 metros de altura e representa a “Mãe Pátria”. Na mão direita, segura as quinas portuguesas, símbolo das vitórias de D. Afonso Henriques, e, na esquerda, carrega um escudo e uma espada. A base do monumento exibe relevos detalhados das batalhas travadas, enquanto uma serpente ao lado simboliza desafios vencidos.

O Contexto Histórico: Moçambique e a Primeira Guerra Mundial

Durante a Primeira Guerra Mundial, Moçambique enfrentou invasões alemãs vindas do então Tanganica (atual Tanzânia). Foi um período marcado por combates intensos, doenças tropicais e privações extremas.

  • Cipaios Moçambicanos: Soldados locais desempenharam um papel vital nas operações, demonstrando conhecimentos estratégicos das matas e táticas de combate. Esses combatentes, embora cruciais, sofreram grandes perdas devido ao clima inóspito e à falta de recursos.
Relevos do monumento aos mortos da Grande Guerra, concebidos pelo escultor – Ruy Roque Gameiro.
  • Impacto Humano: Portugal enviou mais de 20.000 soldados para Moçambique, dos quais mais de 2.000 morreram. O número de mortos foi superior ao registrado na frente europeia, evidenciando as condições extremas da guerra no território africano.

Mitos e Lendas Locais: A Cobra e a Heroína

Entre os habitantes de Maputo, o monumento carrega uma história lendária: a luta contra uma serpente gigante que aterrorizava a região pantanosa onde hoje está a Praça dos Trabalhadores. Segundo a lenda, uma mulher corajosa usou papa quente para atrair e derrotar a cobra, tornando-se uma heroína. Essa narrativa popular é vista como uma metáfora de resistência, tanto cultural quanto física.

A Polêmica Atual: Retirar ou Preservar?

Nos últimos anos, debates acalorados têm emergido sobre a permanência do monumento. Alguns argumentam que ele representa símbolos coloniais, desrespeitando a soberania de Moçambique. Outros, no entanto, defendem que a obra é uma homenagem aos moçambicanos que lutaram e morreram durante a guerra, além de parte importante da história nacional.

Os cem anos da Primeira Guerra Mundial passaram quase despercebidos em Moçambique, embora tenham sido decisivos para a definição das atuais fronteiras do país e tenham causado imensas baixas, após a chegada de um oficial alemão a destinos impensáveis. O conflito iniciado em 28 de julho de 1914, cuja memória repousa simbolicamente em uma das poucas estátuas sobreviventes do período colonial em Maputo, a chamada ‘Senhora da Cobra’, que homenageia “os combatentes europeus e africanos da Grande Guerra”, é hoje alvo de total indiferença.

Enquanto isso, rumores sugerem que um novo monumento pode estar sendo planejado para substituir o atual, com inauguração prevista para um 1º de maio futuro. Ainda assim, a estátua de pedra de Cabriz segue firme, resistindo às ondas do tempo e ao peso das discussões.

A bandeira imperial alemã, até 1919.
Mapa da fronteira entre a África Oriental Portuguesa e a África Oriental Alemã antes do início da Grande Guerra. Repare-se que a parte portuguesa – separada por parte do chamado Triângulo de Kionga e terminando na ponta de Cabo Delgado – não tocava na foz do Rio Rovuma.

Uma Reflexão Sobre Memória e Identidade

O Monumento em Memória dos Mortos da Primeira Guerra Mundial continua a dividir opiniões em Moçambique. Seja como símbolo da pátria ou como figura lendária que derrotou a serpente, ele permanece como testemunho da complexidade da história moçambicana.

Estação Ferroviária de Maputo

Enquanto novas gerações reavaliam seu significado, a estátua resiste, ladeada pela icônica Estação Ferroviária de Maputo, considerada uma das mais belas do mundo.

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