Moçambique, com sua rica herança histórica, guarda segredos pouco conhecidos, como o intrigante Monumento em Memória dos Mortos da Primeira Guerra Mundial, localizado na Praça dos Trabalhadores, em Maputo.
Mais do que uma simples homenagem, o monumento carrega histórias, mitos e divisões que permanecem vivas no imaginário coletivo. Neste artigo, exploramos a história, as controvérsias e o impacto desse monumento que desafia o tempo.
A Origem do Monumento: Tributo aos Combatentes
Inaugurado em 1935, o monumento presta homenagem aos combatentes portugueses e moçambicanos que perderam suas vidas durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Curiosamente, a maioria não morreu em batalha, mas devido a doenças, ataques de animais, fome e outras condições adversas no norte de Moçambique, região que foi palco de intensos conflitos com as tropas alemãs.
Esculpida em pedra de Cabriz, trazida de Sintra, Portugal, a estátua tem 15 metros de altura e representa a “Mãe Pátria”. Na mão direita, segura as quinas portuguesas, símbolo das vitórias de D. Afonso Henriques, e, na esquerda, carrega um escudo e uma espada. A base do monumento exibe relevos detalhados das batalhas travadas, enquanto uma serpente ao lado simboliza desafios vencidos.
O Contexto Histórico: Moçambique e a Primeira Guerra Mundial
Durante a Primeira Guerra Mundial, Moçambique enfrentou invasões alemãs vindas do então Tanganica (atual Tanzânia). Foi um período marcado por combates intensos, doenças tropicais e privações extremas.
- Cipaios Moçambicanos: Soldados locais desempenharam um papel vital nas operações, demonstrando conhecimentos estratégicos das matas e táticas de combate. Esses combatentes, embora cruciais, sofreram grandes perdas devido ao clima inóspito e à falta de recursos.
- Impacto Humano: Portugal enviou mais de 20.000 soldados para Moçambique, dos quais mais de 2.000 morreram. O número de mortos foi superior ao registrado na frente europeia, evidenciando as condições extremas da guerra no território africano.
Mitos e Lendas Locais: A Cobra e a Heroína
Entre os habitantes de Maputo, o monumento carrega uma história lendária: a luta contra uma serpente gigante que aterrorizava a região pantanosa onde hoje está a Praça dos Trabalhadores. Segundo a lenda, uma mulher corajosa usou papa quente para atrair e derrotar a cobra, tornando-se uma heroína. Essa narrativa popular é vista como uma metáfora de resistência, tanto cultural quanto física.
A Polêmica Atual: Retirar ou Preservar?
Nos últimos anos, debates acalorados têm emergido sobre a permanência do monumento. Alguns argumentam que ele representa símbolos coloniais, desrespeitando a soberania de Moçambique. Outros, no entanto, defendem que a obra é uma homenagem aos moçambicanos que lutaram e morreram durante a guerra, além de parte importante da história nacional.
Enquanto isso, rumores sugerem que um novo monumento pode estar sendo planejado para substituir o atual, com inauguração prevista para um 1º de maio futuro. Ainda assim, a estátua de pedra de Cabriz segue firme, resistindo às ondas do tempo e ao peso das discussões.
Uma Reflexão Sobre Memória e Identidade
O Monumento em Memória dos Mortos da Primeira Guerra Mundial continua a dividir opiniões em Moçambique. Seja como símbolo da pátria ou como figura lendária que derrotou a serpente, ele permanece como testemunho da complexidade da história moçambicana.
Enquanto novas gerações reavaliam seu significado, a estátua resiste, ladeada pela icônica Estação Ferroviária de Maputo, considerada uma das mais belas do mundo.