Desde o dia 21 de outubro, Moçambique vive uma onda de manifestações pós-eleitorais que resultaram, até o momento, em pelo menos 130 mortes e 385 pessoas baleadas, segundo dados divulgados pela Plataforma Eleitoral Decide, uma ONG que monitora os processos eleitorais no país. Esses números alarmantes revelam a gravidade da situação, que continua a escalar em intensidade e violência.
Um Cenário de Escalada Violenta
De acordo com o balanço atualizado até 15 de dezembro, os protestos contabilizam ainda:
- 3.636 pessoas detidas
- Mais de 2.000 feridos
- Cinco desaparecidos
Os protestos tiveram início como reação aos resultados das eleições gerais realizadas em 9 de outubro, cujos números oficiais indicaram a vitória de Daniel Chapo, candidato da FRELIMO, com 70,67% dos votos. Esses resultados ainda precisam ser validados pelo Conselho Constitucional até o dia 23 de dezembro, mas já geraram grande insatisfação entre apoiadores do candidato da oposição, Venâncio Mondlane, que alega fraude eleitoral.
A Tragédia de Ressano Garcia: O Caso que Chocou o País
Um dos episódios mais marcantes das últimas semanas foi o trágico caso de um jovem produtor de conteúdos digitais que perdeu a vida enquanto transmitia ao vivo os confrontos na fronteira de Ressano Garcia, na província de Maputo.
O jovem filmava a repressão policial contra manifestantes quando foi alvejado. Mesmo ferido, conseguiu registrar seus últimos momentos.
“Estou a morrer”, disse ele, segundos antes de cair na estrada, em meio ao som de disparos e gritos de populares que tentavam socorrê-lo.
A sua morte gerou uma onda de revolta que culminou em novos confrontos e ataques a infraestruturas nas horas e dias seguintes. Durante o funeral, ocorrido no sábado, mais conflitos com a polícia foram registrados, aumentando ainda mais a tensão no país.
Uma Nação Dividida
A violência e a repressão policial durante os protestos refletem o crescente descontentamento da população com os processos eleitorais. Venâncio Mondlane, o principal opositor e líder dos protestos, prometeu estar em Maputo no dia 15 de janeiro para reivindicar sua posição como presidente.
Essa promessa coloca ainda mais pressão no cenário político moçambicano, já que a data coincide com a posse oficial do novo chefe de Estado.
Perspectivas e Impacto
Os resultados eleitorais ainda pendentes de validação pelo Conselho Constitucional representam um momento decisivo para Moçambique. A repressão violenta, que resultou em milhares de feridos, detenções e mortes, expõe as fragilidades democráticas do país e gera preocupação tanto a nível nacional quanto internacional.
O Papel das Redes Sociais
As redes sociais têm desempenhado um papel central neste período de crise. Vídeos e transmissões ao vivo, como a do jovem alvejado em Ressano Garcia, documentam em tempo real os episódios de violência, gerando mobilização e revolta popular.
No entanto, esse mesmo espaço tem sido alvo de censura e controle por parte do governo, que tenta minimizar o impacto das denúncias nas plataformas digitais.
O cenário atual em Moçambique exige atenção e ação por parte de líderes políticos e da comunidade internacional. Os protestos refletem um profundo desejo de mudança e justiça, mas a violência e a repressão ameaçam sufocar a voz da população.
A validação ou não dos resultados eleitorais será crucial para determinar o rumo do país nos próximos meses, e as palavras de Mondlane sugerem que a disputa pelo poder está longe de acabar.